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02/10/2022 às 15:39, Atualizado em 28/09/2022 às 15:56

Agronejo: Ana Castela defende estilo que mistura modão com funk e batidas de DJs

Nascida na vizinha Amambai, em 16 de novembro de 2003

A cantora Ana Castela parece ser a protagonista real de um legítimo conto de fadas em que, no lugar de um príncipe encantado, surge repentinamente o primeiro lugar nas paradas de sucesso das plataformas musicais. Quer ver?

Era uma vez uma garota de 17 anos que adorava a vida na roça e sonhava em se tornar dentista. Ela gostava muito de cantar. Participava de um coral de igreja, chamado Coração de Maria, todo quarto fim de semana de cada mês.

E também costumava soltar a voz a qualquer hora do dia, no vai e vem da tão acolhedora rotina do campo, mesmo que estivesse andando de bicicleta, de moto ou de cavalo.

Foi, justamente, durante um galope, musicado com a sua própria voz, nas cercanias de Sete Quedas (MS), a 470 quilômetros de Campo Grande, que a vida virou de ponta-cabeça para Ana Flávia Castela, mais conhecida apenas como Ana Castela.

SETE QUEDAS

“Eu sempre morei em Sete Quedas. Vivia entre a cidade e a fazenda dos meus avós, no Paraguai. Foi uma infância feliz, no meio do campo, junto com a minha família, uma das coisas que mais gosto”, diz a cantora, que, após o show em Campo Grande, em 24 de junho, volta a se apresentar no Estado nesta sexta-feira, quando subirá ao palco em Paranaíba.

“Cresci ouvindo música sertaneja com a minha família. Minha mãe sempre gostou de música e cantava por hobby. Gostava de cantar Paula Fernandes, gosta até hoje”, conta Ana, deixando escapar uma risada. Sobre o Coração de Maria, ela afirma: “Acho que ali comecei a aprender mais sobre música”.

Nascida na vizinha Amambai, em 16 de novembro de 2003, a cantora, que atingiu o topo da parada do Spotify no mês de julho, após o seu mais recente – e maior – sucesso, “Pipoco”, aparecer em uma live de Kim Kardashian, não perde uma oportunidade de reforçar o vínculo de origem com Sete Quedas, na fronteira com o Paraguai.

Ana Castela até começou a frequentar, em Dourados (MS), uma graduação em Odontologia. Mas mal sabia que, em pouco tempo, ganharia dinheiro com a própria boca, e não cuidando das dos outros.

Com a pandemia, a futura agropopstar precisou, como todo mundo, se recolher e retomou o cotidiano rural. Passou a publicar, nas redes sociais, vídeos de covers – de rap acústico, feminejo e pop good vibes – que cantava à capela.

AGROPLAY

Um dia, o cantor Rodolfo Alessi, da dupla Fabinho & Rodolfo, assistiu uma das postagens de Ana no YouTube e se interessou. A jovem intérprete cantava “Mastiga Abelha”, sucesso na voz do também sul-mato-grossense Loubet.

A essa altura, Alessi já pilotava o selo musical Agroplay, em parceria com Raphael, uma das metades da dupla Leo & Raphael, que lançou hits como “Os Menino da Pecuária” e “Agro É Top”.

Para a história ficar ainda mais cor-de-rosa, Alessi, por acaso mesmo, acaba descobrindo que Ana Castela é filha de uma amiga de Sete Quedas.

Em fevereiro do ano passado, ainda com aparelho nos dentes e espinhas no rosto, estava no ar “Boiadeira”, que ela gravou com o DJ Lucas Beat, descortinando, ou ao menos jogando luzes, sobre uma fronteira musical ainda não explorada no universo da música sertaneja – a sonoridade eletrônica e o baticum das pistas, de modo geral, mas com destaque para o funk carioca.

“Eu cresci entre a fronteira do Brasil com o Paraguai. A fazenda dos meus avós fica a 30 quilômetros de Sete Quedas. Então, conheci um pouco da cultura paraguaia, das músicas, das comidas. Mas eu amo mesmo a mistura de estilos do nosso Brasil”, diz Ana Castela.

AS CANÇÕES

“‘Boiadeira’ é uma música de composição do meu empresário, o Rodolfo. Ele é amigo da minha mãe e foi ele quem me convidou para gravar essa música. Ele quem me deu esse presente”, reconhece Ana.

“‘Pipoco’ é uma composição que eu assino, feita em parceira com DJ Chris no Beat e que contou com a participação da Melody. Tem a versão rural, mas tem a parte divertida e a pegada do funk”, segue a jovem artista. “São duas importantes canções da minha carreira. ‘Boiadeira’ foi a minha primeira música, a que inclusive me deixou conhecida como Boiadeira, e ‘Pipoco’ foi a música que fez o Brasil conhecer Ana Castela”, resume.

TUDO DE REPENTE

Anunciada como a ponteira de uma nova comitiva da música sertaneja, que canta o orgulho do agronegócio e mistura o modão bruto com batidas eletrônicas, a jovem estrela que, como muitas garotas do mundo agro, curte laço comprido, três tambores e outras competições com cavalos, abre o jogo sobre o que sente diante de tanto sucesso.

Somente no Instagram, são mais de 2,8 milhões de seguidores. E o número de shows mensais, desde julho, varia de 27 a 29 apresentações.

“Ainda não caiu minha ficha. Aconteceu tudo muito rápido, foi tudo de repente. A música no top 1, a quantidade de shows, a repercussão do meu trabalho. Ainda não tô conseguindo assimilar bem, não”, conta a artista, em meio aos sorrisos que só aumentam o seu carisma.

PLAYSTATION

Ana vive atualmente em Londrina (PR), base do Agroplay e de toda uma cena de músicos, técnicos e outros profissionais que fazem da cidade uma espécie de Liverpool – terra dos Beatles – do agronejo.

“Hoje em dia, não consigo nem ficar em casa [mais risos]. E quando estou em casa, gosto de dormir. Não dá tempo de fazer mais nada”, diverte-se a garota, que até outro dia dedicava-se com afinco a maratonas no PlayStation 5.

“Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Ganhei reconhecimento, sou muito feliz por tudo que a música tem me proporcionado. Em compensação, não tenho tempo de sair com meus amigos nem ir até a fazenda dos meus avós com frequência. Sinto muita falta de lá”, confessa Ana Castela. Seus avós paternos deixaram Assis (SP), com os filhos, quando o pai da artista tinha apenas oito anos de idade.

ASSÉDIO

Apesar do pouco tempo de carreira, Ana considera “normal” situações de assédio ou abordagens mais inusitadas por parte dos fãs.

“Dou um jeitinho de sair dessas situações e levo tudo de boa”, despacha a Boiadeira, que vê a participação na Festa do Peão de Barretos, em agosto, como um divisor de águas. “Cantar para uma multidão, na maior festa do peão do Brasil, estar no palco onde já passaram meus ídolos. Eu nem consigo explicar o que senti naquele dia. Surreal, incrível”.

FAZENDINHA SESSIONS

O repórter a questiona sobre a relação da agromusic com o agronegócio, que já começou a investir no segmento musical e em outros desdobramentos do que poderá ser uma nova onda maior do que se imagina. Por exemplo, será lançado amanhã o longa “Sistema Bruto”, de Gui Pereira.

Com Marisa Orth e Jackson Antunes no elenco, além de Bruna Viola, um dos nomes precursores do novo modão, o filme não se utiliza de leis de incentivo fiscal e conta com o aporte financeiro de mais de 30 empresas do setor.

“O agro é tudo. É o que a gente come, é o que a gente compra no mercado. E é nesse cenário tão forte e tão brasileiro que a gente canta as nossas músicas e vem trazendo esse novo estilo que a gente chama de agronejo”, defende a musa agro, que promete para “logo logo” mais novidades. “Músicas novas, parcerias. Espero que todo mundo goste. É a Boiadeira, bebê”. Por enquanto, já estão bombando as faixas do projeto “Fazendinha Sessions”.

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