Publicado em 26/12/2012 às 18:08, Atualizado em 27/07/2016 às 11:24
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Histórias de jogadores brasileiros que foram para países de menor expressão no mundo do futebol e enfrentaram dificuldades de adaptação já não são mais novidade. Porém, os problemas vividos pelos zagueiros Leonardo e Fábio não foram a comida diferente, a língua desconhecida ou o frio excessivo, mas sim a guerra civil existente na Síria.
A dupla defendeu o Al Shorta, principal time da capital Damasco, entre janeiro e julho deste ano. Além do temor por conta da guerra entre grupos de oposição e as tropas governamentais do presidente Bashar al-Assad, os jogadores ficaram meses sem receber seus salários e benefícios e agora brigam na Fifa (Federação Internacional de Futebol) para reaver o montante devido.
Segundo Fábio, apesar de não ter presenciado nenhum ataque a capital Damasco só foi invadida pelos rebeldes em julho, pouco depois da saída deles -, o clima no país era de tensão total.
O negócio está muito feio lá. Estávamos em Damasco, onde as coisas não apareciam tanto, mais nas redondezas, mas eu evitava sair de casa. Ouvia barulhos durante a noite. A sexta-feira era o pior dia, quando mais as coisas aconteciam, disse o jogador, que passou por times como Ponte Preta, Marília e Joinville, e agora tenta a sorte em um time no Brunei.
A família ficava desesperada para eu ir embora. Podia acontecer algo a qualquer momento. Esperei até o fim do contrato e vim embora, lembrou.
Já sabia dos problemas que existiam lá, mas começamos a jogar sem problemas. Realmente havia o problema da guerra no país, mas em Damasco era menor o impacto. Não presenciei nada, disse o zagueiro Leonardo, de 35 anos, e com passagem de quatro anos pelo Palmeiras e Flamengo.
E o clima de guerra pelas cidades da Síria tem influência direta no atraso nos salários. Antes do conflito, que dura quase dois anos e já matou mais de 44 mil pessoas, os estádios viviam cheios e o clube prometia pagar salários entre US$ 10 mil (R$ 20,7 mil) e US$ 15 mil (R$ 31 mil) para os brasileiros. Porém, o torcedor, com medo da violência, se afastou das arquibancadas e os clubes foram obrigados a mandarem seus jogos em outros países, como a Jordânia, passando a enfrentar sérias dificuldades financeiras.
Fiquei três meses sem receber e vim embora. Quando cheguei, estava tudo normal, aí começaram a atrasar, depois enrolavam e decidi sair. A direção falava que estava sem dinheiro. O time inteiro estava sem receber. Não é um salario grande, mas é um valor que vale a pena, disse Leonardo, que deve disputar o Campeonato Carioca pelo Nova Iguaçu.
Fábio também entende que a aposta em países de menor expressão no futebol mundial é uma boa, principalmente pelo salário.
"Preciso de mais três, quatro anos para me estabilizar financeiramente e aqui no Brasil não dá. O time só quer fazer contrato por quatro meses, para os Estaduais. Fora, são só contratos de um ano", disse o zagueiro, que passou pelo futebol da África do Sul e da Índia, além de diversos clubes no Brasil.
Há ainda um jogador brasileiro no elenco do Al Shorta. O volante Gilson não deixou o time no meio do ano, mas também estava sem receber salários, segundo Leonardo e Fábio.
Os dois jogadores buscaram ajuda do advogado Eduardo Carlezzo, especialista em direito esportivo, que já deu entrada na Fifa com o processo.
Foi protocolado o pedido e a Fifa já procurou o clube, estamos esperando o pronunciamento. Pedimos os salários atrasados e também um indenização pelo clube ter deixado os jogadores desamparados em uma situação complicada como a que a Síria vive. Temos grandes chances de ganhar, disse Carlezzo, que pede entre US$ 60 mil (R$ 124,2 mil) a 170 US$ mil (R$ 351,9 mil) para cada um.