Publicado em 21/08/2016 às 15:00, Atualizado em 21/08/2016 às 15:00
Uma soma de fatores tem causado o "desaparecimento" do queijo nas prateleiras dos mercados em Campo Grande. O motivo, segundo especialistas, tem sido a mudança climática aliada ao preço elevado do milho, principal insumo da ração animal. E com a falta do produto nas prateleiras, alguns estabelecimentos tiveram queda de 30% nas vendas, situação que não tem previsão para terminar.
O gerente da empresa Center Frios e Conveniência, afirma que há dois meses o produto está em falta no mercado. Antes as vendas semanais do derivado chegavam a 100 peças, hoje esse número chega a 20, quatro vezes menor do que o habitual.
"Estamos com essa falta pois o preço do leite subiu muito e o produtor rural prefere vender o leite in natura do que produzir, assim o preço na venda compensa mais. A previsão é que até o final do mês as vendas sejam normalizadas".
Já o encarregado do supermercado Enconta, na Vila Rosa, Lucilei dos Santos, explica que o derivado está em falta há três meses e além da demora para conseguir repor o estoque, os distribuidores afirmam que o motivo é a baixa produção de leite no estado.
"Quem tem o produto no estoque está segurando para conseguir manter as vendas. Estamos fazendo os pedidos com muita antecedência e mesmo assim a demora chega a um mês. Os distribuidores nos repassam que não há previsão para que essa situação seja normalizada e com essa falta do produto tivemos uma queda de 30% nas vendas".
O leite por sua vez, principal ingrediente para a produção do derivado teve além da entressafra, uma queda na produção de 20,47% nos primeiros cinco meses deste ano, se comparado ao mesmo período de 2015. Atualmente o produtor no estado recebe por litro vendido o valor de R$ 1,45, o maior preço pago ao produtor nos últimos anos segundo levantamento do Conseleite (Conselho Paritário de Produtores e Indústrias de Leite do Estado de Mato Grosso do Sul).
Investimento em genética do rebanho leiteiro é solução para que haja maior produção no estado (Foto Arquivo Aurora Real)Investimento em genética do rebanho leiteiro é solução para que haja maior produção no estado (Foto Arquivo Aurora Real)
De acordo com a integrante do núcleo de criadores Girolando de Mato Grosso do Sul, Aurora Real, o principal motivo para a falta do derivado no mercado é a mudança climática que ocorreu neste ano aliado ao aumento no preço do milho.
"Nosso estado vem caindo no ranking nacional de produção do 12º para o 14º lugar e o motivo é uma somatória de fatores e a falta de incentivo na produção de leite acaba afastando os produtores da atividade. Além disso, a mudança climática que ocorreu neste ano somada ao aumento no preço do milho fez com que as rações ficassem mais caras. Como consequência temos uma queda da presença do queijo nas prateleiras dos supermercados e o aumento no preço do leite".
Aurora explica também que para esse quadro ser revertido no estado é preciso investimento na genética do rebanho leiteiro, assim a produção é maior. "Nesse período é difícil ter uma produção maior. Se tiver mais cursos na área, manejo e estímulo para que o produtor entenda essa situação que acontece anualmente, o estado se torna preparado para enfrentar a seca e ter um estoque de alimento".
Produção - Ainda segundo o Conseleite, entre julho e agosto há queda na produtividade devido a entressafra, mas ao contrário do Brasil, que na última década registrou crescimento na captação de leite em 40,7%, Mato Grosso do Sul retraiu a produção em 20,7%.
O estado está na contramão do desenvolvimento nacional da produção de leite, ocupando a 13ª posição no ranking nacional. Com isso os produtores rurais de Mato Grosso do Sul perdem nos quesitos margem de lucro, falta de investimentos e baixa produtividade.
Entre os anos de 1990 e 2000 o volume produzido no estado subiu apenas 28,1%, em Goiás a elevação foi de 230,8% e em Mato Grosso o aumento atingiu 191% no mesmo período.
Considerando que dos 24 mil produtores rurais no segmento lácteo, 15,1 mil criadores não conseguem produzir mais de 100 litros de leite ao diariamente. A produção do leite no estado não é satisfatória para a sustentabilidade econômica do segmento e isso se deve pelo fato de que a atividade para ser viável precisa atingir produção mínima de 300 litros ao dia.
Fonte - Campograndenews