Publicado em 27/02/2020 às 16:35, Atualizado em 27/02/2020 às 15:54
Departamento de Agricultura americano anuncia abertura de mercado para o produto in natura do Brasil.
Mais de dois anos após o embargo dos Estados Unidos à carne bovina in natura brasileira, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) anunciou na semana passada a liberação. Com a retomada, o mercado sul-mato-grossense vislumbra a possibilidade de retomar negociações e ampliar os negócios com o país.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e o Serviço de Inspeção e Inocuidade Alimentar (FSIS) informaram ao Mapa a abertura de mercado para carne bovina in natura do Brasil para os Estados Unidos. Conforme informações do Ministério, a titular da pasta, Tereza Cristina Dias, comemorou a retomada. “Hoje, recebemos com muita satisfação uma notícia esperada há muito tempo: a reabertura do mercado de carne bovina in natura do Brasil para os Estados Unidos. Uma notícia que esperávamos com ansiedade há algum tempo e que hoje eu tive a felicidade de receber. É uma ótima notícia, porque isso traz o reconhecimento da qualidade da carne brasileira por um mercado tão importante como o americano”, disse a ministra Tereza Cristina.
Do ponto de vista econômico, a reabertura do mercado norte-americano é excelente para todo o Brasil, afirmou o secretário-adjunto da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Ricardo Senna. “A carne é uma das principais cadeias produtivas competitivas internacionalmente, estamos em uma fase importante da conquista da abertura de novos mercados e só o mercado americano representa cerca de 65% daquilo que o Brasil exportou em 2019. Nós exportamos US$ 7,5 bilhões de carne in natura e só eles compram US$ 5 bilhões. O potencial que temos para atender ao mercado norte-americano é muito grande. Então essa notícia da reabertura desse mercado com certeza é positiva”, disse.
De acordo com o presidente da Associação de Matadouros, Frigoríficos e Distribuidores de Carne (Assocarnes-MS), Sérgio Capuci, a abertura de mercados é sempre recebida com otimismo. “Sempre que a gente abre algum mercado, é positivo. Mato Grosso do Sul tem uma grande capacidade de habilitar outras plantas para os Estados Unidos”.
HABILITAÇÕES
Antes do embargo, 15 unidades brasileiras estavam habilitadas a enviar carne aos americanos. Em Mato Grosso do Sul, quatro unidades estavam habilitadas a vender para os norte-americanos, sendo três plantas da JBS, localizadas em Nova Andradina, Naviraí e Campo Grande, e uma unidade da Marfrig, em Bataguassu. Em 2016, as vendas de carne bovina fresca brasileira para os Estados Unidos somaram US$ 284 milhões.
A JBS informou, por meio de nota, que tem 11 unidades habilitadas para exportar carne bovina in natura para os Estados Unidos. “A JBS confirma a notícia sobre as 11 unidades industriais aprovadas para iniciar o processo de exportação de carne bovina in natura para os Estados Unidos. Vale ressaltar que a JBS possui uma base consolidada de clientes e de distribuição local e está imediatamente apta para atender esse mercado potencial”, informou a nota. A empresa não confirmou se as três plantas de Mato Grosso do Sul estão entre as indústrias citadas.
“Quando houve a suspensão de 2017, todas as habilitações dos frigoríficos brasileiros caíram. Como é muito recente, qual é o passo que a gente espera? Uma visita de uma comissão norte-americana para visitar novamente todas as plantas. Então, eles vão reavaliar todas as indústrias, retificar ou ratificar as habilitações. E não sei se eles vêm com a intenção de avaliar outras plantas que queiram se credenciar para exportar. Então, depende muito mais do que eles vão fazer do que da gente. Estamos aguardando esse posicionamento para rever as habilitações que anteriormente foram revistas”, explicou Ricardo Senna.
No comunicado encaminhado ao Mapa, o FSIS disse que o Brasil corrigiu os problemas sistêmicos que levaram à suspensão e está restabelecendo a elegibilidade das exportações de carne bovina in natura para os Estados Unidos a partir do dia 21 de fevereiro. Além disso, o FSIS encerrará os casos pendentes de violação de pontos de entrada associado à suspensão de 2017.
Conforme informou o Mapa, antes da primeira remessa, o Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Mapa (Dipoa) deve enviar uma lista atualizada de estabelecimentos elegíveis certificados.
HISTÓRICO
Embora os EUA não sejam o principal importador de carne fresca brasileira, o maior mercado do mundo era considerado um “selo de qualidade” para outros países. A abertura do mercado dos EUA para a carne fresca brasileira ocorreu em setembro de 2016, após longo período de negociação. No entanto, em março de 2017, depois da deflagração da Operação Carne Fraca, pela Polícia Federal, a inspeção foi intensificada e, em junho daquele ano, a compra foi suspensa. A ação policial apontou irregularidades na inspeção sanitária em frigoríficos.
Os americanos suspenderam as compras de cortes bovinos do Brasil, em razão das reações (abcessos) provocadas no rebanho, pela vacina contra a febre aftosa. Essas reações desencadearam o processo de redução da dose da vacina de 5 ml para 2 ml e a retirada da saponina da composição do produto.
Desde o início do ano passado, a ministra Tereza Cristina tem feito diversas reuniões com o secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Sonny Perdue, para tratar do assunto. Em junho de 2019, uma missão veterinária dos Estados Unidos esteve no Brasil para inspecionar frigoríficos de bovinos e suínos. A missão retornou em janeiro deste ano.
Com informações do Correio do Estado