Publicado em 06/09/2020 às 15:01, Atualizado em 06/09/2020 às 12:47
Grandes bancos e fintechs podem contabilizar perdas de até R$ 1 bilhão com novas modalidades
Com novos meios de pagamentos instantâneos, a população terá uma nova maneira de realizar transações financeiras.
A chegada do Pix e do Open Banking, meios de pagamentos que funcionam via aplicativos, trará competitividade ao mercado financeiro e refletirá em perdas para bancos e fintechs.
Mas você sabe o que são e como funcionarão?
O Pix é uma nova maneira de transferir, pagar e receber valores, desenvolvida para aproveitar a usabilidade e a facilidade dos telefones celulares, com o objetivo de aumentar a eficiência dos pagamentos e deixar de lado a necessidade de utilizar dinheiro de papel.
Já o Open Banking prevê o compartilhamento dos dados bancários do cliente entre várias instituições simultaneamente.
O correntista poderá eleger os serviços mais convenientes. Não terá obrigação de ser cliente de uma só casa bancária.
De acordo com a economista do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio (IPF-MS), Daniela Dias, além de mais agilidade, a ferramenta trará competitividade ao mercado.
“Com certeza, quando a gente fala em era da informação, de mecanismos on-line de pagamento, há necessidade de facilitações. E com a tecnologia vem a necessidade de agilidade e um menor custo. O Pix traz essas vantagens e ao mesmo tempo aumenta a competitividade de mercado ante as outras formas de transações, isso é importante”, destacou.
“Dá para comparar com a diferença entre Uber e táxi. O carro de aplicativo foi bem aceito porque tínhamos a questão do custo, mas também a tecnologia a partir de um app. A mesma coisa a gente tem para essas transações eletrônicas. A agilidade nesse processo associada aos menores custos torna essa função competitiva”, ressaltou a economista.
A chegada das inovações trará consequências para bancos e fintechs.
Todas as etapas da cadeia de valor de pagamentos devem enfrentar mudanças radicais na criação de novos modelos de negócios, movendo lucros e estimulando a inovação.
“Com o início destes dois movimentos, a partir de 16 de novembro, teremos um ambiente altamente interoperável, beneficiando os consumidores e fazendo com que empresas se tornem cada vez mais competitivas”, revela Antonio Cerqueiro, sócio da Bain & Company.
As transações serão gratuitas para transferências entre consumidores finais e o custo é estimado em 80 vezes menor para instituições financeiras (1 centavo por 10 transações).
O pagamento instantâneo feito via Pix deve substituir boa parte das transferências feitas via Transferência Eletrônica Disponível (TEDs) e Documento de Ordem de Crédito (DOCs) até 2024, trazendo grandes reduções para os bancos, com perdas de margem operacional de até R$ 1 bilhão, conforme análise da Bain & Company.
DINHEIRO
Durante webinar desenvolvido pela consultoria de gestão Capco, o coordenador do projeto de implantação do Pix no Banco Central, Breno Lobo, explicou que o dinheiro é o instrumento de pagamento com o maior custo social.
“Há o custo de produção, de armazenamento, distribuição e segurança. Por isso, o processo de eletronização tem a capacidade de aumentar a eficiência da economia do País”, disse.
Lobo explica que hoje existem cinco principais meios de pagamento: TED, DOC, boleto, cartão de débito e cartão de crédito.
Comparando com estes meios, o Pix será o instrumento no qual o beneficiário receberá mais rápido seus recursos. E, diferentemente da TED, o Pix estará ativo todos os dias, 24 horas por dia.
Uma das principais formas de fazer uma transação com o Pix será com o uso de QR Codes, que poderão ser facilmente lidos pelas câmeras dos celulares dos usuários sem a necessidade de aplicativos específicos.
“O QR Code pode ser facilmente gerado. Para pequenos negócios, será simplesmente imprimir um QR Code e colocar no balcão”, disse o coordenador.
Ainda de acordo com Lobo, a facilidade para integração de dados e sistemas, a segurança (com processos de autenticação ao longo da cadeia), o ambiente aberto (cerca de 900 instituições estão no processo de adesão) e a gestão por um agente neutro – o Banco Central – são outras características fundamentais do novo meio de pagamento.
“O potencial disruptivo do Pix trará uma simplificação da cadeia de pagamentos, permitindo interações diretas entre negócios e consumidores, sem a necessidade de intermediadores. Será muito simples para um pequeno negócio aceitar pagamentos Pix, pois não é necessário nenhum equipamento adicional. Já acompanhamos o sucesso do uso de QR Codes na China e entendemos que há um grande potencial do Brasil seguir esta mesma tendência. Além disso, o Pix introduziu uma nova figura no mercado: o iniciador de transação de pagamento. É um nicho totalmente novo que abre grandes possibilidades de negócio”, ressalta o diretor-executivo da Capco, Luciano Sobral.
OPEN BANKING
O BC segue com um projeto ainda mais abrangente, o Open Banking.
O líder da área regulatória deste projeto, Diogo Silva, explica que “se trata de uma medida para incentivar a concorrência e trazer novos modelos de negócio, a partir do compartilhamento organizado de dados e serviços entre instituições financeiras, sempre com o consentimento do consumidor. É uma revolução silenciosa que começa no setor financeiro e pode abranger outros, permitindo que o mercado desenvolva novas soluções para o consumidor. É o consumidor empoderado”, ressalta Diogo Silva.
Um dos principais pontos desta regulamentação é a criação de padrões para os serviços financeiros – permitindo uma melhor comparação – e para as comunicações entre as empresas e o sistema bancário (API - Application Programming Interface).
“Esta é uma parte crucial do projeto, como vimos ocorrer no Reino Unido. Neste mercado, observamos como a inovação foi gerada por meio da conexão de negócios em um ambiente seguro e regulamentado”, explica o diretor-executivo da Capco.
Fonte - Correio do Estado