Com a moratória do dourado e a proibição da captura e transporte das demais espécies de peixes das bacias dos rios Paraguai e Paraná por pescadores amadores, a partir de 2020, o governo de Mato Grosso do Sul criou uma política de conservação dos estoques pesqueiros aliada ao desenvolvimento de uma nova alternativa econômica, a da pesca esportiva, hoje um dos segmentos que mais cresce no Brasil.
Ao explanar sobre o assunto durante o 1º Encontro Pesca Cota Zero, realizado de 30 de maio a 2 de junho, no Passo do Lontra Park Hotel – Pantanal de Corumbá -, o secretário-adjunto da Semagro (secretaria estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Agricultura Familiar e Produção), Ricardo Senna, afirmou que a nova legislação pesqueira proporcionará o crescimento da pesca e criará oportunidades de novos negócios em várias áreas de produção.
Senna citou o sucesso do torneio de pesca esportiva de Três Lagoas, que reuniu mais de 300 amantes desse esporte de 12 estados, com faturamento de R$ 2 milhões pelo comércio local, e o evento realizado no Passo do Lontra, com lotação do hotel promotor, para falar do potencial do segmento. Avaliou que a pesca pode ser integrada aos roteiros turísticos e ter um calendário próprio, abrangendo os principais destinos, como Corumbá, Coxim e Porto Murtinho.
Atrair investidores
“O fomento a pesca esportiva, como medida crucial para repovoamento dos nossos estoques pesqueiros, estimula oportunidades de negócios, inclusive na área de entretenimento, impactando na diversificação da economia regional”, disse o secretário-adjunto. “O papel do Estado, agora, além de criar programas de apoio e geração de renda ao pescador profissional e ao ribeirinho, será o de atrair novos investidores para esse nicho de mercado”, antecipou.
O governo, por meio da Semagro, focará os grandes eventos da pesca esportiva pelo país, como as feiras, para divulgar o potencial pesqueiro do Estado e dialogar com a indústria de equipamentos náuticos e de pesca e vestuário esportivos quanto às oportunidades que se abrem em Mato Grosso do Sul para investimentos. Além de expandir o turismo, segundo Ricardo Senna, o Estado quer atrair novos empreendedores e gerar mais emprego e renda.
Esse cenário otimista se baseia, também, na perspectiva de crescimento interno do turismo náutico com o retorno ao Estado dos milhares de brasileiros que hoje preferem pescar na Argentina, onde a adoção da cota zero recuperou o estoque pesqueiro. Segundo levantamento do Sebrae, o número de praticantes do pesque-solte no Brasil cresceu de 4 milhões para 8 milhões. Em expansão, a pesca esportiva gera R$ 3 milhões de faturamento anual.
Medida de coragem
O encontro da pesca cota zero encerrado neste domingo (2/6) no Passo do Lontra, por iniciativa de empresários do destino turístico, serviu de termômetro para demonstrar a reação dos pescadores do Estado. Os participantes do evento foram unânimes em declarar apoio à medida, fortalecendo a decisão de proibir a captura e transporte das espécies nativas tomada em fevereiro deste ano pelo governador Reinaldo Azambuja.
Presente ao encontro, o especialista em pesca esportiva Beto Chioquetta, jornalista paranaense que produz o programa independente “Bom de Pesca”, retransmitido por 28 emissoras de canal fechado de TV, destacou a coragem do governador em assinar os decretos da cota zero e da moratória do dourado. “Não imaginávamos que a legislação seria mudada e será uma mudança de paradigma, o Estado tem muito a evoluir com a volta do peixe”, disse.
Chioquetta pratica pesca esportiva no Pantanal há 15 anos também ressaltou a realização do evento no Passo do Lontra como reflexo do novo comportamento dos praticantes desse esporte, principalmente a nova geração, e citou que o Estado está seguindo o exemplo da Argentina, hoje o principal destino de pesca da América do Sul. “Não tem mais lugar para o extrativismo, não se pode continuar matando as matrizes nos rios do Pantanal”, defende.
Encontro de gerações
Com a nova legislação pesqueira e a volta do peixe nos rios, segundo ele, o Estado terá um salto extraordinário no seu fluxo de turistas a médio prazo. “Se não tem o peixe, não tem a cadeia do turismo”, observa. “O Pantanal é o diferencial, único como destino de pesca, porque une o esporte com a natureza, o que não vimos na Amazônia ou na Argentina. Aqui, você está no rio a observar os animais a sua volta, eu mesmo vi duas onças no Lontra”, disse o jornalista.
O encontro no Passo do Lontra revelou o comprometimento da nova geração com a preservação dos rios e o apoio incondicional a cota zero. O idealizador do evento foi o jovem João Guilherme Venturini, 19, neto do empresário João Venturini, pioneiro do turismo na região. “Eu cresci aqui na beira do rio (Miranda) e hoje me entristece o fato de não ter mais o peixe em abundancia, como conta meu avô”, afirma, parabenizando o governador Reinaldo Azambuja.
Para os empresários Sandro e Marju Venturini, pais de João Guilherme, o evento no hotel da família, situado na beira do Rio Miranda, marcou a posição do pescador esportivo em relação à cota zero e promoveu o encontro de várias gerações. O agropecuarista Sérgio Benoni, de Coxim, aderiu ao movimento e foi ao Lontra praticar o pesque-solte com o filho, Sérgio, e os netos Pedro Paulo, 19, e Eduardo, 16. “Hoje pescamos só com isca artificial e a maior emoção é soltar o peixe”, diz ele, 70 anos.
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