Publicado em 09/03/2017 às 12:01, Atualizado em 09/03/2017 às 11:54
No sistema penitenciário, a figura da mulher como sexo frágil é uma mentira absurda, como diz música.
Em Mato Grosso do Sul, onde nove em cada dez detentos são homens, as mulheres representam 42,2% do quadro de servidores da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), atuando desde ações de assistência à segurança e custódia de reeducandos.
Atualmente, trabalham na Agepen 577 agentes penitenciárias, que em meio a um ambiente cercado por muralhas e grades, e na lida com pessoas com histórico de criminalidade e violência, mostram a sua força e sensibilidade para manter a segurança e disciplina nas unidades prisionais do Estado.
No sistema penitenciário, a figura da mulher como sexo frágil é uma mentira absurda, como diz música. É o que assegura a servidora Solange Maria Cazeto, que trabalha como chefe de equipe no Estabelecimento Penal Feminino Irmã Irma Zorzi. Segundo ela, o fundamental do trabalho é ter firmeza nas decisões sem perder o olhar humano sobre cada situação.
“É preciso termos pulso firme, mas sem deixarmos de ser justas, e, principalmente no caso do presídio feminino, onde somos mulheres lidando com mulheres, é importante estabelecer limites, sem esquecer dos direitos e necessidades de cada uma”, ressalta.
Há 17 anos trabalhando no presídio feminino da Capital, Solange garante que muitos fatos positivos marcam a sua vida profissional, como casos de ex-detentas que encontra na rua com as vidas transformadas. Entre as histórias guardadas em sua memória profissional, uma a agente penitenciária classifica como especial: a realização de um parto no presídio.
“A interna já tinha ido até a unidade de saúde, mas o médico mandou de volta, ficamos monitorando e decidimos encaminhá-la novamente, mas não deu tempo e acabou ocorrendo nas minhas mãos, foi muito rápido, então eu desenrolei o cordão umbilical do pescoço do bebê, o cobri com um lençol e coloquei em cima da sua mãe”, conta. “Na hora eu agi de forma fria, para poder resolver a situação, mas depois eu desabei em choro, foi um momento muito especial trazer uma vida ao mundo, mesmo sendo nas circunstâncias que foi ”, comenta emocionada. Além da experiência marcante, a servidora também ganhou uma homenagem especial da interna, que deu o nome de Vitória Solange à criança.
Destaque feminino
Além da importante participação no quantitativo de servidores, as mulheres, cada vez mais, estão ganhando espaço nas funções de chefia e de confiança na Agepen, representando atualmente 37,8% dos cargos disponibilizados.
A agente penitenciária Nair Mendes Borba é uma delas. Com cerca de 30 anos na profissão, hoje responde pela Chefia da Divisão de Compras e Suprimentos, responsável por gerenciar toda a parte de aquisição de bens e serviços, atendendo o todo o sistema penitenciário do Estado.
Para a servidora, o papel de evidência do sexo feminino na instituição é reflexo do perfil da mulher moderna, que se prepara profissionalmente e busca conhecimento cada vez mais. No entanto, Nair acredita que ainda há muito a ser conquistado pelas mulheres na agência penitenciária.
“Temos muitos espaços ainda a ocupar, como assumirmos direção de presídios masculinos, pois não há impedimento legal quanto a isso, mas hoje não temos nenhuma mulher nessa função”, comenta. “A mulher, na sociedade como um todo, ainda é muito discriminada, mas temos que acreditar que somos capazes de desempenhar todas as funções nas nossas vidas”, completa.
Entre as áreas de atuação da Agepen, destaque para Diretoria de Assistência Penitenciária (DAP), responsável por ações de educação, trabalho, saúde e promoção social da massa carcerária, na qual a predominância de chefias é de mulheres. As responsáveis pelas quatro divisões que compõem a diretoria, e pela própria direção da DAP, são todas do sexo feminino.
“O toque feminino é um fator de equilíbrio no sistema prisional. Nós temos a firmeza nas nossas atitudes, mas com a sensibilidade de entender as necessidades e diferenças de todos que compõem esse sistema, sejam nossos colegas, os internos ou mesmo os familiares dessas pessoas, que também estão presentes na nossa rotina”, ressalta a diretora de Assistência Penitenciária, agente Elaine Arima Xavier Castro.
Para o diretor-presidente da Agepen, agente penitenciário Aud de Oliveira Chaves, a polivalência e a sutileza, características marcantes na personalidade feminina, são essenciais para o trabalho de ressocialização previsto Lei de Execução Penal, e que representa um dos principais desafios da Agepen.
“É um trabalho muito complexo que vai muito além de guardar pessoas condenadas pela Justiça tem a difícil missão de ajudar a resgatar vidas até então perdidas para o crime, proporcionando um recomeço diferente e um futuro digno. E quem melhor do que a mulher que com sua sensibilidade materna para saber desempenhar esse trabalho”, finaliza.
Fonte - Site do governo do MS