Publicado em 14/04/2024 às 13:30, Atualizado em 14/04/2024 às 13:50
Regina Duarte e Lucélia Santos sofrem uma espécie de banimento extraoficial motivado por pensamentos opostos
O currículo de Regina Duarte tem um dado impressionante. A atriz protagonizou a única novela a conseguir 100% de audiência em um capítulo. Foi ‘Selva de Pedra’ em 1972.
Lucélia Santos possui o mérito de ter interpretado a personagem principal de ‘Escrava Isaura’, de 1976, maior sucesso internacional da história da teledramaturgia brasileira.
As duas atrizes deram valiosa contribuição para a consolidação da Globo como melhor canal de TV do país. Escaladas como heroínas de folhetins, estrelaram outros sucessos de público e crítica.
Impossível esquecer de Regina como Viúva Porcina em ‘Roque Santeiro’, Maria do Carmo em ‘A Rainha da Sucata’ e nas três vezes em que viveu Helenas do autor Manoel Carlos (‘História de Amor’, ‘Por Amor’ e ‘Páginas da Vida’).
Na galeria de tipos de Lucélia estão Fernanda de ‘Locomotivas’, Carolina de ‘Guerra dos Sexos’, Silvana de ‘Vereda Tropical’, Janete de ‘Água Viva’ e Maria das Graças de ‘Sinhá Moça’.
Apesar do histórico positivo, as atrizes não receberam mais convites da Globo por motivo semelhante: a forte atuação em defesa de pautas incômodas. Em lados opostos no espectro ideológico, elas pagam preço alto pelo ativismo.
Na década de 1980, no auge de sua popularidade, Lucélia participava de atos pró-Reforma Agrária e se embrenhava no interior do Acre para protestar ao lado do líder seringueiro Chico Mendes contra a devastação da Floresta Amazônica. Naquele momento, a luta pelo meio ambiente não era tão bem-vista como hoje.
Além disso, foi uma das artistas com envolvimento efetivo nas primeiras campanhas de Lula à Presidência. Em relação à TV, militou por melhores condições de trabalho de atores e técnicos, provocando irritação em diretores do canal e autores de novelas.
A partir dos anos 1990, ela foi chamada somente para pequenas participações e teve um único papel fixo na Globo, a médica Jackeline na oitava temporada de ‘Malhação’. Mesmo com a carreira prejudicada, manteve a dedicação à esquerda.
Não baixou a cabeça para a poderosa Globo, associada ao pensamento de centro-direita e apoiadora da ditadura militar à época dos fatos. Em recente entrevista à jornalista Hildegard Angel, no canal TV 247, a atriz disse que a antipatia do canal com ela se deve “basicamente por uma questão política”.
Sem convites da emissora onde estreou aos 21 anos, Lucélia trabalhou esporadicamente em produções de ficção do SBT, Record e RedeTV. Em Portugal, fez uma novela na TVI.
Regina Duarte se encontra no mesmo limbo, porém, por apoiar incondicionalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro e pautas caras à direita e extrema direita, como a liberdade absoluta de manifestação nas redes sociais e o combate ao comunismo.
A ex-simpatizante dos tucanos (políticos do PSDB), que gerou rebuliço ao dizer “eu temo medo” ao vislumbrar a vitória de Lula na eleição de 2002, rescindiu contrato com a Globo após 50 anos para ser secretária de Cultura no governo bolsonarista. Ficou 77 dias no cargo.
Rejeitada pela maioria dos colegas do meio artístico, a ex-namoradinha do Brasil passou a ter a imagem evitada pela Globo. Não foi convidada para as festividades dos 70 anos das telenovelas brasileiras e aparece pouco na divulgação das reprises no Viva e de tramas antigas disponibilizadas no Globoplay.
Em Lucélia Santos, 66 anos, e Regina Duarte, 77, encontramos talentos únicos para a arte dramática. A presença magnética das duas faz falta no vídeo. Curiosamente, atuaram uma única vez juntas, em 1979.
No episódio ‘Ainda Não é a Hora’ do seriado ‘Malu Mulher’, a socióloga Malu conduzia uma conversa profunda sobre aborto com a jovem Jô, desesperada com as consequências de uma gravidez não planejada. Como se constata, essas artistas nunca tiveram medo de polemizar.
Com informações do Portal Terra