As linhas e agulhas começam a trabalhar logo cedo nas mãos de detentos da Penitenciária Estadual de Dourados (PED). A meta é concluir a confecção de uniformes escolares completos de alunos da rede municipal de ensino de Três Lagoas, cuja encomenda é de responsabilidade de ONG Artaban, que possui uma oficina de costura no presídio. Parte da produção também é realizada na Penitenciária de Segurança Média de Três Lagoas (PSMTL).
A iniciativa, além de levar capacitação, ocupação produtiva e remunerada aos custodiados, refletindo diretamente no processo de ressocialização, representa economia significativa aos cofres públicos, bem como a garantia de os alunos receberem seus uniformes no início do ano letivo.
“É vantagem para todos os envolvidos”, destaca o diretor-presidente da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), Aud de Oliveira Chaves, que reforça o incentivo ao trabalho prisional também como uma forma de reduzir os índices de violência, já que diminui a probabilidade de reincidência no crime, outro fator social importante.
Na penitenciária é realizado desde o corte até a parte de serigrafia das peças, tudo com muito cuidado e sob o olhar atento da supervisora da Artaban, Neide de Souza Silva, que também é responsável por treinar os detentos. Segundo ela, a satisfação em capacitá-los é ainda maior quando percebe que também está ensinando um novo caminho. “Temos três ex-internos aqui da PED, que agora estão no semiaberto, que estão com projeto de se unirem e montarem uma confecção; isso alegra bastante a gente, pretendemos, inclusive, doar máquinas de costura para que possam iniciar esse projeto”, revela.
Nas máquinas de costura da confecção da PED, Josimar Carvalho, 33 anos, aprendeu o valor do trabalho digno e conquistou uma nova profissão que ele afirma querer levar para a vida em liberdade. “Eu não sabia nem como pregar um botão e hoje me sinto qualificado para trabalhar em qualquer indústria de confecção, ou quem sabe montar o meu próprio negócio quando eu sair daqui”, comenta com um olhar de esperança no rosto.
Com o suor de seu esforço diário, o reeducando garante remuneração de ¾ do salário mínimo mensal e remição de um dia na pena a cada três de serviços prestados, conforme estabelece a Lei de Execução Penal. “Mas a gente também ocupa bastante a mente, quando chega aqui o nosso compromisso é com o trabalho, é atender as metas, como funciona uma indústria lá fora, então a gente se sente muito satisfeito e capaz com isso”, afirma.
Responsável por coordenar a parte de serigrafia, Anderson de Oliveira Pereira, 34 anos, descobriu no ofício do pai a chance de escrever uma nova história de vida, a partir do “orgulho de se sentir útil”. É ele que repassa aos companheiros da área como se trabalha desde a montagem da matriz à finalização das peças, serigrafadas quadro a quadro.
“Às vezes, por um minuto de bobeira, a gente acaba parando aqui nesse lugar, mas esse trabalho para mim representa uma vitória, cada cor que a gente pinta, cada desenho que a gente preenche, e quando a gente vê o resultado, é muito bom. Agradeço ao meu pai por ter ensinado e agora eu vejo o valor do meu trabalho”, assegura Anderson.
O convênio é para fabricar 68 mil peças nas duas penitenciárias, entre bermudas, camisetas com mangas e regatas, mochilas pequenas e grandes, além dos estojos. Segundo a ONG Artaban, a confecção nas unidades prisionais garantirá uma economia de 40% no custo final para a Prefeitura.
Outros trabalhos
Atualmente, 600 internos trabalham na Penitenciária Estadual de Dourados, segundo informações do diretor Antônio José dos Santos. Além das oficinas de costura e serigrafia, os custodiados atuam na cozinha, padaria, barbearia costura de bolas, fabricação de tanques e pias em concreto (para atender a própria unidade), reciclagem, entre outros serviços.
Cada três dias de serviços prestados pelos detentos garantem a eles desconto de um dia no total da pena imposta. No caso do trabalho em oficinas instaladas por meio de parcerias com empresas, também é oferecida remuneração.
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