Publicado em 27/01/2023 às 12:03, Atualizado em 27/01/2023 às 11:18
A mais jovem tinha 15 anos e foi brutalmente morta
O Brasil teve 131 pessoas trans assassinadas em 2022, uma média de 11 por mês, segundo relatório anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra). As vítimas foram 130 mulheres trans/travestis e 1 homem trans.
A mais jovem tinha 15 anos e foi brutalmente morta: Ester foi encontrada decapitada e com um dedo decepado em Natal, em outubro. Ela era de Olinda, Pernambuco. Um homem de 26 anos confessou o crime, segundo a polícia, mas responderá em liberdade.
O número de assassinatos em 2022 ficou abaixo dos 140 contabilizados no ano anterior, mas acima da média da série histórica iniciada em 2008, que é de 121 mortes por ano. A série inclui dados contabilizados pelo Grupo Gay da Bahia, até 2016, e pela Antra, que começou a produzir um dossiê dos assassinatos em 2017.
A Antra explicou que o número de assassinatos pode ser maior porque não existem dados oficiais sobre a violência contra essa população no Brasil.
Ministro fala em 'mudar realidade'
O documento, divulgado pouco antes do Dia Nacional da Visibilidade Trans, que é no próximo domingo (29), foi entregue aos ministros dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e da Igualdade Racial, Anielle Franco, em evento na tarde desta quinta (26), em Brasília.
"É possível construir um país com esses números que a gente viu agora? É possível construir alguma coisa que se chama nação suportando assassinatos de pessoas apenas porque elas são como elas são?", questionou Silvio Almeida.
"Se nós não formos capazes, se não tivermos a decência de mudar essa situação, nós nunca seremos um país e nós não mereceremos ser um país. Então, é um compromisso deste governo, que é um governo decente, e de todo e qualquer governo decente, mudar a realidade estampada nesse relatório."
"A gente quer fazer um pacto de que nós, junto com vocês, vamos transformar essa secretaria em ações e entregas importantes para essa população e importante para sociedade brasileira", completou a secretária de Direitos da População LGBTQIA+, Symmy Larrat, que é uma travesti.
Brasil é o que mais mata trans
Pelo 14º ano, o país continua sendo o que mais mata pessoas trans no mundo, seguido pelo México e os Estados Unidos, de acordo com a ONG Transgender Europe, que monitora 171 nações.
Pernambuco foi o estado com mais vítimas, 13, seguido por São Paulo e Ceará, com 11 casos. Do total, 64% ocorreram em cidades do interior dos estados.
O perfil das vítimas segue o mesmo: a maioria é mulher trans/travesti, negra e que vive da prostituição.
"Apesar das variações numéricas, no contexto geral não houve qualquer mudança significativa em relação à violência e à subalternização social que pessoas trans ocupam", diz o dossiê produzido por Bruna Benevides, secretária de articulação política da Antra.
"E estas continuam enfrentando os piores índices de violência e violações de direitos humanos quando comparadas a qualquer outro grupo que enfrenta sistemáticas violências vindas do estado."
O dossiê da associação também chamou a atenção para 20 casos de suicídio, sendo 13 de travestis/mulheres trans, 6 de homens trans/transmasculinos e 1 de pessoas não binária.
Fonte - G 1