Foram divulgados pelo Ministério da Saúde, os números oficiais consolidados de mortes no trânsito brasileiro em 2021. Segundo os dados, morreram 33.813 pessoas em decorrência do trânsito brasileiro. O número é aproximadamente 3,4% maior que o registrado em 2020. Também é maior que o número de óbitos de 2019, quando o Brasil registrou 32.667 mortes por acidentes de trânsito.
Desde 2014 o Brasil vinha registrando, ano a ano, diminuição no número de mortes por acidentes de trânsito. No entanto, a partir de 2020 os números voltaram a subir, principalmente em relação aos pedestres, ciclistas e motociclistas.
Conforme os dados do Ministério da Saúde, os motociclistas foram os que mais perderam a vida nas vias e rodovias do Brasil. Foram 11.942 mortes nessa condição. Em seguida estão os ocupantes de automóveis (7.029) e os pedestres (5.349). A faixa etária mais vulnerável, conforme os dados, está entre 20 e 59 anos.
A maioria das mortes ocorreu na Região Sudeste, na sequência aparece a Região Nordeste e em terceiro lugar a Região Sul.
De acordo com o Dr. Flávio Emir Adura, médico do tráfego e diretor científico da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), apesar de o total de óbitos por sinistros de trânsito terem registrado queda de 2015 a 2019, a taxa de mortalidade se manteve bastante elevada, dando sinais de que o problema estava longe de ser resolvido. “No Brasil, os acidentes de trânsito são a segunda causa de morte não natural evitável, suas três principais origens são o “fator humano, fator veículo e fator via”. Costuma-se atribuir ao “fator humano” a causa de 90% ou mais dos acidentes, os quais preferimos denominar sinistros, em conformidade com a nomenclatura proposta pela Associação Brasileira de Normas Técnicas”, explica.
Ainda conforme Dr. Adura, um fator preocupante em relação aos dados se refere ao número de mortes envolvendo motociclistas.
“Desde o ano de 2009, no trânsito em nosso país, os motociclistas superaram os pedestres como as principais vítimas fatais e não fatais. A vulnerabilidade dos motociclistas é de tal nível que sua letalidade em acidentes chega a ser 17 vezes maior que a dos ocupantes de automóvel. A categoria de condutores que concentra maior mortalidade na faixa jovem é a dos motociclistas, com taxas extremamente elevadas dos 19 aos 22 anos de idade”, diz.
O médico explica ainda como esse fator de risco aumentou pós-pandemia. “Com os novos hábitos pós-pandemia, as motocicletas por propiciarem deslocamentos mais rápidos e custo de aquisição mais acessível e passaram a ser utilizadas em maior escala tanto para o trabalho como para as atividades não remuneradas ao veículo. Mas o expressivo crescimento da frota explica, em parte, o aumento da mortalidade dos sinistros envolvendo motocicletas, devendo ser acrescentado aos riscos da condução em alta velocidade e ultrapassagens perigosas para atender os prazos das entregas”, analisa Dr. Adura.
Dr. Adura também faz um alerta sobre outro tipo de comportamento que está influenciando nos números. “Outro importante fator humano que por certo está contribuindo muito para essa inversão de tendência da mortalidade do trânsito brasileiro é uso do telefone celular e dispositivos de mensagens durante a condução de veículos automotores, se destacando como principal causa de Falha de Atenção ao Conduzir (FAC) e se constituindo em uma das mais prevalentes etiologias dos sinistros de trânsito. A redução do número de acidentes de trânsito, passa pelo controle desse fator de risco”, sugere.
Atropelamento de idosos
Chama a atenção, na análise dos dados, a mudança na faixa etária mais atingida quando se fala em atropelamentos. A maioria dos pedestres que perderam a vida no trânsito possuem entre 40 e 79 anos.
Dr. Adura faz uma análise sobre o aumento do risco de atropelamentos nessa faixa etária. Para ele, o Brasil tem apresentado, nos últimos tempos, um panorama em que a mortalidade e a fecundidade se mostraram em declínio, fazendo com que a esperança de vida e, por consequência, a proporção de idosos aumentasse sensivelmente.
“O ritmo de crescimento de população idosa, associado a uma forma de vida saudável e ativa, expõe as pessoas dessa faixa etária ao risco de sinistros de trânsito, como motoristas e como pedestres”, aponta o médico.
Conforme o especialista, ainda há outros elementos que trazem maior vulnerabilidade aos pedestres idosos. “Os idosos estão sempre em atividade, fazendo compras, visitando parentes e amigos, indo ao banco, ocasiões em que necessita atravessar ruas e avenidas. Considerando sua velocidade de locomoção (0,7 metro/segundo ou 2,5km por hora, em média), em relação ao adulto jovem e à velocidade do mundo do automóvel. O processo natural de envelhecimento compromete de forma progressiva e irreversível capacidades físicas, cognitivas e percepto-sensoriais do ser humano, com perdas da acuidade visual e auditiva assim como declínio da força e da resistência muscular, e consequente redução de desempenho, influenciando a habilidade dos indivíduos para atividades básicas e instrumentais da vida diária”, conclui.
Eliane Pietsak, pedagoga e especialista em trânsito, ainda faz outras considerações sobre a fragilidade dos idosos no trânsito.
“Essas pessoas estão andando sozinhas pelas ruas, expostas aos perigos. Nem todos precisam de supervisão após os 70, 80 anos, mas é sabido que a mobilidade diminui, os reflexos ficam mais lentos e os sentidos já não são os mesmos. É importante saírem às ruas sob a supervisão de outra pessoa mais jovem. Cuidado nunca é demais, levando em consideração ainda que, um atropelamento nesta idade, ainda que o veículo esteja em baixa velocidade, a chance de ser fatal é quase de 100% devido a fragilidade dos idosos”, finaliza.
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