Publicado em 03/02/2023 às 12:00, Atualizado em 03/02/2023 às 11:42
Cidades podem perder repasse do governo federal
O Fundo de Participação dos Municípios se tornou uma grande dor de cabeça para os prefeitos por conta dos dados prévios apresentados pelo Censo feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Centenas de municípios tiveram queda no número de habitantes e isso representaria diminuição no repasse do FPM .
O fundo é uma transferência constitucional da União para as cidades brasileiras. O cálculo de distribuição é baseado em informações levadas ao TCU (Tribunal de Contas da União) até o dia 31 de outubro de cada ano pelo IBGE. Os principais dados são o número de moradores de cada município e a renda per capita de cada estado do país.
O FPM é visto como fundamental, pois segundo a pesquisa Perfil dos Municípios Brasileiros - Finanças Públicas, do próprio IBGE, sobre receitas e despesas de todas as cidades do Brasil de 1998 a 2000, representa 57,3% das receitas disponíveis para as prefeituras com até cinco mil habitantes.
Mas cidades com até 50 mil habitantes também passariam por sérias dificuldades. Em conversa com o prefeito de Pereira Barreto, João de Altayr Domingues (PL), a nova forma de distribuição do fundo poderia acarretar em uma série de problemas para pequena cidade do interior de São Paulo. “Iria impactar negativamente o orçamento da prefeitura”, explicou.
Caso foi parar na Justiça
A CNM (Confederação Nacional de Municípios) apontou que a nova metodologia do Censo poderia causar um prejuízo de R$ 3 bilhões para 702 cidades. A perda seria imediata se não tivesse a Lei Complementar 165/2019, que ordenou o congelamento dos coeficientes.
O PCdoB entrou com ação no STF (Supremo Tribunal Federal) para que o novo cálculo fosse suspenso e a distribuição fosse feita pelos coeficientes de distribuição usados em 2018.
O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, determinou que a distribuição seguisse usando os dados de 2018. Desta forma, o magistrado suspendeu a decisão normativa do Tribunal de Contas da União, que ordenava o uso dos dados populacionais do Censo 2022, que ainda não foi finalizado.
“Ainda bem que o STF suspendeu a mudança”, demonstrou alívio o prefeito Joãozinho. Porém, a decisão do magistrado ainda terá que passar pela plenária da Corte.
A determinação do ministro não agradou a todos. A Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte, por exemplo, soltou nota demonstrando preocupação com a suspensão. A entidade aponta que municípios que tiveram aumento de habitantes podem ser prejudicados.
“O pedido ocorrido pela decisão em vigor, causa grave insegurança jurídica e econômica, e neste momento e trabalha, em apoio às cidades atingidas, para reverter esse ponto específico em relação a elas. No Rio Grande do Norte, vale destacar que os municípios atingidos pela atual decisão são: Extremoz, Florânia, Jaçanã, São Gonçalo do Amarante, São José de Campestre, Tibau do Sul e Campo Grande”, diz a nota.
Censo gera dúvida
O clima de incerteza em cima do Censo tem prejudicado a definição do FPM. O ex-presidente do IBGE, Roberto Olinto, afirmou que os dados preliminares de 2022 mostra a “tragédia absoluta” que atingiu sobre a pesquisa. Em entrevista feita em janeiro para a Folha de São Paulo, ele apontou que é preciso fazer uma auditoria e, se necessário, realizar um novo Censo.
"Por que tem que auditar? Porque esses dados não são confiáveis. Teve todos esses problemas, e uma coleta de seis meses é tudo que a demografia reclama. Não pode ser assim", comentou.
Diante da incerteza, tanto o governo federal quanto o judiciário querem definir se há realmente necessidade de um novo Censo. Para isso ocorrer, é preciso que a pesquisa seja concluída para depois passar por uma auditoria. Se for comprovada alguma falha, pode ter que outro levantamento seja feito.
Com informações do Portal IG