O país tinha cerca de 8,2 milhões de pessoas vivendo em áreas com risco de enchente ou deslizamentos de terra em 2010. É o que mostra estudo inédito feito pelo IBGE e pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), divulgado nesta quinta-feira (28).
O IBGE cruzou os dados do Censo com o das áreas de risco monitoradas pelo Cemaden para quantificar a população brasileira nessas regiões. Ao todo, 871 municípios brasileiros tinham cidadãos vivendo nessas condições. A ideia é atualizar os dados no Censo de 2020.
Segundo o coordenador da área de Geografia do IBGE, Cláudio Stenner, apesar de os dados serem de oito anos atrás, as características gerais do território persistem e os resultados poderão ser utilizados para o desenvolvimento de políticas públicas futuras para essas regiões.
Um mapa interativo com os locais de risco será divulgado na página do IBGE. A pesquisa identificou 8.309 bairros, ou polígonos, no termo técnico, com casas em áreas com risco de desastres provocados pelas chuvas.
Um dado que preocupa, segundo Stenner, é que 9,2% dos brasileiros que vivem em áreas de risco de desastres naturais são crianças menores de 5 anos de idade. Já os idosos com mais de 60 anos respondem por 8,5% da população nessas condições. O técnico lembra que esses grupos costumam ser os mais vulneráveis durante desastres naturais.
“É importante saber a característica de cada local, até para a criação de políticas públicas adequadas. Evacuar uma população de crianças ou idosos requer um planejamento maior do que em locais com características diferentes”, disse.
O Sudeste é a região com maior contingente de moradores em áreas de risco, com 4,2 milhões de pessoas, seguida do Nordeste (2,9 milhões), Sul (703 mil), Norte (340 mil) e Centro-oeste (7,6 mil).
Na ranking das 20 cidades com as maiores populações em área de risco, as capitais de Bahia, São Paulo, Rio e Minas Gerais ocupam as quatro primeiras posições, respectivamente. Na capital baiana, quase metade da população (45,5% ou 1,2 milhão de pessoas) se encontra em regiões com riscos de desabamentos ou enchentes.
Em São Paulo, a segunda colocada, a população [e de 674 mil pessoas, com 6% da população nessas condições. Já no Rio, o contingente de 444 mil representa 7% do total da cidade. Em Belo Horizonte, os 389 mil respondem por 16,4% do total da população da capital mineira.
Stenner explica que em geral as populações que vivem em áreas de risco têm renda mais baixa e menor acesso a serviços públicos básicos como água encanada, rede coletora de esgoto e coleta de lixo. Isso não significa, no entanto, que não existam pessoas de padrão de vida mais elevado que vivam em locais de risco.
Essa questão ficou evidente durante a tragédia da região serrana do Rio, em janeiro de 2011, quando cerca de mil pessoas morreram nos municípios de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. Tanto moradores de casebres humildes nas encostas quanto moradores de condomínios de alto padrão tiveram suas casas devastadas pela avalanche de barro e pedras que desceu nas encostas.
Ainda que o Sudeste seja o que numericamente tem maior contingente de pessoas nessa situação, a análise regional mostra que as pessoas em condição mais fragilizada estão no Norte do país. Lá, a população menor de 5 anos em área de risco representa 13% do total, enquanto no Sudeste, o percentual é de 9%.
Do total de casas em áreas de risco no Norte, 26% não têm água encanada, enquanto no Sudeste esse percentual é de 4,5%. A diferença se mantém, por exemplo, quando analisada a presença da rede de esgoto no comparativo regional. No Norte, 70% das casas em área de risco não têm esgotamento sanitário, enquanto no Sudeste o percentual é de 17,7%.
Stenner explica que a falta de serviços básicos pode ser um elemento que agrave ou precipite desastres naturais. A destinação incorreta do esgoto pode infiltrar o solo e deixar o local mais suscetível a deslizamentos, por exemplo. O acúmulo de lixo em encostas também pode estar relacionado ao aumento do risco de quedas de barreiras.
“A vida em áreas de risco está ligada quase sempre à precarização socioeconômica que um grupo de indivíduos é submetido. No processo geral de urbanização do país, sobrou para as classes menos favorecidas viver em encostas, em locais distantes dos grandes centros. Conseguimos agora mapear onde estão essas pessoas para que sejam definidas políticas públicas para esses locais”, disse Stenner.
Os desastres naturais são também uma das maiores causas de deslocamentos de pessoas dentro de seus próprios países no mundo, superando guerras, civis, conflitos violentos e epidemias de doenças.
Segundo estudo do Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno (IDMC, na sigla em inglês), somente em 2017 foram registrados 30,6 milhões de novos deslocamentos internos no mundo. Desse total, 18,8 milhões tiveram que deixar suas casas por causa de desastres naturais.
No Brasil, o número de pessoas nessa situação em 2017 foi de 71 mil pessoas, cinco vezes o registrado um ano antes.
Fonte - Folhapress
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