Publicado em 26/01/2021 às 16:31, Atualizado em 26/01/2021 às 14:17
Greve chamada para 1º de fevereiro não deve acontecer, avalia Wanderlei Dedeco.
Após pegar uma forte pneumonia que afetou seus dois pulmões em abril do ano passado e ficar em isolamento dentro do seu caminhão, parado em um posto de gasolina à beira de uma rodovia, o caminhoneiro Wanderlei Alves, mais conhecido como Dedeco, sofreu outro revés.
Com a queda de demanda e do preço do frete em meio à pandemia, Dedeco atrasou o pagamento das parcelas e teve tomados de volta pelo vendedor seus três caminhões.
Sem o ganha-pão depois de 27 anos passados na boleia e desgostoso com o aparelhamento da categoria pelo governo federal após a greve de 2018, o caminhoneiro, que foi uma das lideranças da mobilização que abalou a economia do país, decidiu mudar de ramo.
"Dos caminhões, só me sobraram os pneus. Foi o que eu vendi para abrir minha hamburgueria", conta Dedeco, que agora é dono de uma lanchonete em Curitiba, no Paraná.
O ex-motorista, hoje com 46 anos, acredita que a greve chamada por parte da categoria para 1º de fevereiro não deve acontecer, já que boa parte dos caminhoneiros segue, na sua visão, "muito apaixonada ainda" pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Conforme Dedeco, o anúncio da greve foi uma estratégia de parte dos caminhoneiros para reabrir o diálogo com o governo, que havia sido interrompido pela pandemia.
O fato de os motoristas de caminhão terem sido incluídos na última sexta-feira (22/01) entre as categorias prioritárias para vacinação contra a covid-19 e de o governo ter zerado o imposto de importação para pneus usados no transporte de cargas mostram que a pressão já surte efeito.
Greve de 2018
"A greve de 2018 foi uma greve planejada e bem trabalhada no sigilo, nos bastidores, durante seis meses para acontecer", lembra Dedeco.
"Além disso, ela teve apoio da população quase em geral e do setor rural. Isso não tem mais, porque o setor rural hoje está todo do lado do governo. Ruralista rico gosta de governo ruim porque governo ruim faz o dólar subir e quem vende em dólar se dá bem. Então o agronegócio gosta do Bolsonaro, porque aí eles vendem a soja deles a R$ 5, R$ 6 o dólar", provoca.
O dólar encerrou a segunda-feira (25/01) cotado a R$ 5,51, com uma valorização de 6,28% em apenas 25 dias de 2021. No ano passado, a moeda americana chegou a superar os R$ 5,90 em meados de maio.
As exportações do agronegócio brasileiro somaram US$ 100,8 bilhões (R$ 551,1 bilhões) em 2020, segundo maior valor da série histórica, atrás apenas de 2018, quando somaram US$ 101,2 bilhões. Com isso, segundo o Ministério de Agricultura, o agronegócio foi responsável por quase metade das vendas externas totais do Brasil no ano passado, com participação recorde de 48%.
"Hoje, querem fazer a paralisação 'no peito'. Não faz. Caminhoneiro não faz greve 'no peito'. Não vai acontecer greve dia 1º", avalia Dedeco.
Conteúdo - BBC News Brasil