A casa do general Walter Braga Netto, preso neste sábado (14) por tentativa de interferência no inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado, foi apontada pela Polícia Federal como o local onde ocorreu a reunião que deu início ao plano para executar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF, Alexandre de Moraes.
De acordo com o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o encontro ocorreu em 12 de novembro de 2022, no apartamento de Braga Netto na Asa Sul, em Brasília. A PF confirmou a presença dos envolvidos por meio de geolocalização dos celulares.
Além de Braga Netto e Mauro Cid, participaram da reunião o major Rafael Martins de Oliveira e o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima. Segundo os investigadores, foi nesse encontro que o planejamento operacional para a atuação de grupos clandestinos, conhecidos como “kids pretos”, foi apresentado e aprovado por Braga Netto.
O objetivo, conforme apontado pela investigação, era dar suporte às ações necessárias para impedir a posse do governo eleito e restringir o exercício do Poder Judiciário. Após a aprovação do plano, ações clandestinas foram iniciadas, incluindo o financiamento de manifestações que pediam um golpe militar e a arregimentação de militares com formação em forças especiais para atuar nas manifestações.
A PF descobriu que o grupo também planejava a criação de um “gabinete de gestão de crise”, que seria liderado pelos generais Augusto Heleno, como chefe, e Braga Netto, como coordenador-geral. Este gabinete estaria vinculado à Presidência da República e seria responsável por monitorar o cenário pós-golpe, buscando apoio interno e internacional.
Uma minuta para a criação do gabinete foi identificada pelos investigadores, com previsão de ser instituída pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional) no dia 16 de dezembro de 2022, caso o golpe fosse consumado.
Segundo o relatório, Braga Netto também participou de pressões contra os comandantes da Aeronáutica e do Exército para que aderissem ao golpe. O general teria utilizado táticas da chamada “milícia digital” para promover ataques pessoais aos comandantes e seus familiares, classificando-os como “traidores da pátria”.
Mensagens trocadas entre Braga Netto e o ex-militar Ailton Barros mostram discussões sobre a resistência dos comandantes. Em uma das conversas, Braga Netto teria escrito: “Oferece a cabeça dele. Cagão”, referindo-se ao comandante do Exército. Em outra, atacou o comandante da Aeronáutica: “Senta o pau no Baptista Júnior (…) traidor da pátria. Daí para frente. Inferniza a vida dele e da família”.
A PF indiciou Braga Netto junto com outras 36 pessoas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.
Braga Netto foi identificado como integrante de dois núcleos da suposta organização criminosa: o de incitação de militares e o de oficiais de alta patente que apoiavam e influenciavam os demais núcleos.
O general, que foi ministro da Casa Civil e da Defesa no governo Bolsonaro, também atuou como candidato a vice-presidente na chapa do ex-mandatário em 2022. Atualmente, ele está sob custódia do Exército, enquanto as investigações continuam.
Com informações do SBT News
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