Publicado em 14/02/2017 às 13:00, Atualizado em 14/02/2017 às 10:40
Alterações também destacaram o papel de governos e de representantes de empregadores e de trabalhadores na luta contra a exploração laboral.
Em seminário realizado durante a Semana Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, em janeiro, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) elogiou a adoção pelo Brasil de categorias jurídicas que favorecem o combate ao trabalho forçado.
A agência da ONU, porém, fez um alerta: a reputação global do país está em risco desde a condenação do Estado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) no caso Fazenda Brasil Verde.
Presente no encontro "Em defesa do conceito de trabalho escravo: aspectos jurídicos e impactos na implementação das políticas", o coordenador interino do Programa de Combate ao Trabalho Forçado da OIT, Antonio Carlos de Mello, lembrou que o organismo conta com uma série de normativas sobre o tema, que datam de diferentes momentos da história, como os anos 1930 e 1950.
Em 2014, a Conferência Internacional do Trabalho atualizou as diretivas já existentes, abordando as novas características do trabalho forçado no mundo contemporâneo. Outras mudanças incluem a menção à importância de esforços de prevenção e proteção das vítimas.
Alterações também destacaram o papel de governos e de representantes de empregadores e de trabalhadores na luta contra a exploração laboral.
"A OIT define na Convenção nº 29 (de 1930) que trabalho forçado é todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de uma pena e para o qual ela não tenha se oferecido espontaneamente", afirmou Mello.
Segundo o especialista, o conceito inicial foi revisado ao longo do tempo pela agência da ONU, que institui patamares mínimos que devem ser observados por todos os Estados-membros que ratificam as convenções. Mello acrescentou que nada impede que países avancem ainda mais nas políticas e legislações sobre o tema.
"De fato, o comitê de peritos da OIT tem reiteradamente mencionado o conceito brasileiro previsto no artigo 149 do Código Penal como uma evolução que atualiza o formato contemporâneo da escravidão, já que abarca as condições relacionadas a jornadas exaustivas e condições degradantes de trabalho", afirmou o coordenador de programa do organismo internacional.
"É importante também destacar a participação da delegação brasileira no processo de definição do novo Protocolo e da Recomendação de 2014, até mesmo porque o Brasil já avançou em muitas das questões tratadas por esses instrumentos, sendo considerado uma referência mundial."
Apesar do protagonismo do Brasil, Mello alertou que esse status está sob ameaça após a condenação inédita do país pela CIDH, que afirmou que o Estado não preveniu a prática de trabalho escravo moderno e de tráfico de pessoas no caso da Fazenda Brasil Verde, no Pará. "Os olhos do mundo estão voltados para o Brasil nesse momento", disse Mello.
O especialista lembrou as recomendações da ONU para que a nação continue avançando na luta contra o trabalho escravo.
Entre elas, estão a manutenção do conceito atual de "trabalho escravo" previsto no Código Penal Brasileiro (Art. 149), a reativação do cadastro de empregadores flagrados explorando mão de obra escrava, conhecido como "Lista Suja", e o fortalecimento da carreira da inspeção do trabalho.
O ministro da Justiça e Cidadania, Alexandre de Moraes, e a secretária de Direitos Humanos, Flávia Piovesan, também participaram do seminário e afirmaram que a publicação da "Lista Suja", que foi interrompida em 2014, seria discutida em breve com o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira.
O evento foi organizado pela Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (CONATRAE), como parte das atividades em torno do dia nacional sobre o tema, lembrado em 28 de janeiro.