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21/10/2023 às 11:30, Atualizado em 21/10/2023 às 15:11

Atraso das chuvas pode impactar a produtividade da soja em MS

Projeção para esta safra é de 13,8 milhões de toneladas, queda de 8% ante os 15 milhões de toneladas colhidas em 22/23

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Essa foto foi tirada de uma lavoura no município de Batayporã. Foto - Marcos Donzeli

O atraso das chuvas provocado pela influência do El Niño em Mato Grosso do Sul pode impactar a produtividade da soja. A informação é do Jornal Correio do Estado.

Conforme projeção do Sistema de Informações Geográficas do Agronegócio (Siga-MS), para o ciclo 2023/2024, são esperados 13,8 milhões de toneladas de produção, queda de 8% em comparação com o recorde de 15 milhões de toneladas da safra 2022/2023.

De acordo com o pesquisador agrometeorologista da Embrapa Agropecuária Oeste, Éder Comunello, o fenômeno pode impactar negativamente o setor.

“Em Mato Grosso do Sul, a principal cultura a ser implantada no momento é a soja. Apesar de sua rusticidade e plasticidade, os efeitos indesejáveis do El Niño, como o atraso das chuvas e a ocorrência de ondas de calor, podem comprometer a viabilidade das lavouras ou pelo menos reduzir os ganhos do produtor”, enfatiza.

Após sete anos de sua última passagem pela Região Centro-Oeste, onde comumente o El Niño eleva as temperaturas e o volume das chuvas, o evento climático ocorre em consequência do aquecimento das águas do Oceano Pacífico tropical, tendo efeitos significativos na agricultura.

“Apesar de a sua atuação ser benéfica para algumas culturas, como a soja, o evento também está associado a outros efeitos, como a irregularidade hídrica, o aumento das temperaturas e a ocorrência de veranicos, que podem prejudicar a produção agrícola”, reitera o agrometeorologista.

Conforme o Cemtec, nos primeiros 15 dias de outubro foram registrados os maiores volumes de chuva nas regiões centro-sul e leste do Estado. Nessas regiões, as chuvas estão acima da média histórica para o mês. Entretanto, na maior parte do Estado as chuvas encontram-se bem abaixo da média histórica.

Ainda assim, as entidades de monitoramento apostam em uma boa recuperação das chuvas na Região Centro-Oeste na virada deste mês, o que pode reduzir a escassez hídrica na região.

SAFRA

Dados do Siga-MS compilados pela Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS) apontam que, na safra de soja 2023/2024, são projetados 13,818 milhões de toneladas. No ciclo passado, o Estado colheu recorde de 15,007 milhões de toneladas.

A colheita da supersafra do ano passado também não era estimada, a projeção inicial era de pouco mais de 13 milhões de toneladas para 2022, perto do cenário que se repete neste ano.

A Aprosoja-MS não descarta a possibilidade de supersafra, uma vez que é necessário considerar todos os últimos ciclos para a realização da média futura, fazendo com que os números sejam subestimados.

“Fazemos uma estimativa baseada na média histórica de cada região e vira uma média geométrica”, detalha o presidente da entidade, André Dobashi.

Conforme publicado pelo Correio do Estado na edição de 25 de setembro, a área de cultivo de soja em Mato Grosso do Sul cresceu 100% no período de dez anos. Na safra 2013/2014, foram 2,1 milhões de hectares dedicados ao cultivo da oleaginosa, e a estimativa para o ciclo 2023/2024 aponta 4,2 milhões de hectares.

No mesmo período, a produção mais que dobrou, há dez anos o volume de soja colhida foi de 6 milhões de toneladas. Já a projeção para o ciclo que tem início a partir deste mês é de 13,8 milhões de toneladas, alta de 130%.

PLANTIO

Versátil, a janela de plantio da oleaginosa é bastante amplo, porém, resultados de pesquisa da Embrapa relacionam produtividades melhores da soja com plantios realizados entre o fim de outubro e novembro.

“Um atraso nesse momento não traria prejuízos diretamente para a cultura em si, mas seria muito prejudicial por interferir na cultura seguinte, o milho safrinha”, alerta Éder Comunello.

O pesquisador da Embrapa complementa salientando que o ideal seria aguardar uma mudança nas previsões climáticas, buscando assegurar condições melhores para o cultivo.

“O retorno das chuvas propiciará também a redução das temperaturas extremas e ondas de calor. Na impossibilidade de aguardar melhores condições, deve-se adotar uma estratégia de redução de riscos, plantando parcialmente as áreas e escalonando o máximo possível”, diz Comunello.

O economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), Staney Barbosa Melo, aponta um momento de muita cautela por parte dos produtores, uma vez que muitos aguardam a retomada das chuvas para realizar o plantio.

“Em Mato Grosso do Sul, por conta do calor, a semeadura da safra segue lenta, mas avançou significativamente na última semana, de 8% para 23%. No ano passado, o plantio já havia atingido 27% no período”, relata.

RETROSPECTO

O fenômeno El Niño já interferiu na agricultura de MS, sendo a última vez em 2015/2016, episódio considerado um dos três mais severos dos últimos 50 anos. Naquele ano, as temperaturas do Oceano Pacífico elevaram-se a níveis recordes, atingindo o ápice no 1º trimestre de 2016.

Datados desde 1900 pelas organizações climáticas, foram registrados 26 eventos de El Niño no Brasil, onde cerca de 50% foram seguidos por um ano neutro, enquanto 40% foram seguidos por La Niña.

Nos anos de 2015 e 2016, o fenômeno provocou as mais altas temperaturas da história. Entretanto, Mato Grosso do Sul atingiu produção recorde de 7,6 milhões de toneladas (7.597.014 quilos) na safra de soja daquele ano, conforme mostra levantamento realizado pelo Siga-MS.

O aumento na produção do grão foi de 9,4% em relação ao ciclo anterior, o que garantiu ao Estado a supersafra. Em relação à produtividade final, a média alcançada foi de 50,5 sacas por hectare.

O maior problema destacado pelos produtores diante do El Niño foi a dificuldade para realizar a colheita em razão do excesso de chuvas durante o ciclo, o que dificultou o manejo das lavouras, gerou grãos avariados, além de perdas de áreas alagadas e dificuldade de acesso às áreas e no escoamento da colheita.

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