Publicado em 19/09/2017 às 20:00, Atualizado em 19/09/2017 às 13:17

CONTO: Hospital Fides Sanctorum, por Felipe Pereira

Essa é a história da minha vida.

Redação,
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Felipe Pereira - autor do texto.Foto: Rede sociais

Essa é a história da minha vida. Talvez alguém diga: Uau! Que história incrível. Ou outro diga: Nossa! Que história triste.

É uma história de dor. Tudo começou no hospital Fides Sanctorum na cidade de São Francisco na Califórnia, fui internado lá com suspeita de leucemia, mas felizmente o diagnostico acusou-me de mielodisplasia, uma enfermidade que se não for tratada a tempo pode se tornar leucemia. Os meus dias no Fides Sanctorum foram os mais terríveis e os mais sensacionais da minha existência. Quando eu pensava que o mundo era um lugar ironicamente cruel, percebi o quanto ele é ironicamente cruel. Você pode me dizer:

- Ethan, o mundo é lindo e colorido. – Eu provavelmente vou dizer que sim, ele é. Mas o meu mundo nem sempre foi feito de cores.

Quando eu fiquei desgostoso por conta da minha condição precária de saúde, conheci uma garota. Ela era dona de uma beleza estonteante, e fez meu coração acelerar de tal forma que eu achei que ele fosse parar pelo esforço que estava fazendo. Zoe foi a garota que eu sempre esperei. Tornamo-nos próximos um do outro. Em um dia excepcionalmente comum ela e eu decidimos enlouquecer as enfermeiras, fingimos nossa fuga. As autoridades foram acionadas e procuraram por nós pela cidade inteira, enquanto isso ficamos rindo numa sala pouco usada do hospital. Meus momentos com ela foram os mais complexos. Foram os mais felizes, e os mais tristes. Zoe me fez o homem mais feliz, contudo a tristeza em breve me visitaria. Ela estava internada ali devido um tumor maligno no pâncreas. Os pais de Zoe levaram-na para uma clínica geral devido às náuseas e ânsias de vômito que ela vinha sentindo. O médico da clínica disse que ela estava com câncer em estado avançado. E encaminharam-na para o Fides Sanctorum.

Foi assim que Zoe me encontrou. Depois que descobriram nossa tramoia, nos reprenderam a não fazer mais, apesar de nossos pais terem rido da brincadeira. Os dias foram transcorrendo-se e em um desses dias Zoe foi levada a UTI apressadamente. Ela passou uma semana na UTI. A mãe de Zoe me procurou e com um olhar triste me disse:

- Ethan! Os médicos disseram que a pouco o que se fazer. – A mãe da garota suspirou, cansada. Meu coração sangrou tristonho, vi minha alegria se esvair. – Ela quer te ver, - completou por fim.

Entrei no quarto que ela estava. Eu a abracei demoradamente, ela chorou.

- Não vou viver muito. – Zoe falou, secando as lágrimas.

- Você viveu muito mais do que imagina. Porque você viveu intensamente – Eu disse carinhosamente.

- Você vai me levar na memória? – Ela me perguntou.

- Todos os dias. – Eu respondi.

Conversamos por horas a fio, todos os dias eu a visitava no quarto dela, no hospital. Infelizmente Zoe faleceu um mês após ter entrado na UTI. Eu recebi alta duas semanas depois que Zoe morreu. Lembro-me de ter chorado compulsivamente no enterro dela, os médicos me liberaram para ir, as enfermeiras mais próximas a Zoe também foram dar seus pêsames.

Essa é minha história. Conheci a dor e a alegria. E soube que a dor será para sempre minha companheira. Eu ainda penso em Zoe dez anos após ela ter morrido. Ainda sinto falta dela e se me concentrar posso vê-la sorrindo, na minha mente. Hoje o céu está estrelado, me retiro para fora de casa, sento na grama confortável. Vejo uma estrela brilhar intensamente, logo eu sei que é Zoe sorrindo.