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27/05/2017 às 12:30, Atualizado em 26/05/2017 às 22:50

Pressionada, Maria Silvia reclamava de investigações da PF contra o BNDES

Segundo relatos de interlocutores, ela dizia que era complicado lidar com as operações policiais quando não tinha nenhuma relação com as irregularidades supostamente praticadas em gestões anteriores.

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Maria Silvia Bastos, ex-presidente do BNDES - Foto: Divulgação/BNDES

Sob críticas de ministros e empresários, a economista Maria Silvia Bastos ensaiava desde a semana passada sua saída do comando do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Em conversas reservadas, ela reclamava da pressão de empresários e investidores para a liberação de financiamento da instituição financeira e se queixava do desgaste provocado à sua imagem pelas investigações da Polícia Federal sobre operações do banco público.

Segundo relatos de interlocutores, ela dizia que era complicado lidar com as operações policiais quando não tinha nenhuma relação com as irregularidades supostamente praticadas em gestões anteriores. Ela argumentava que o risco de punição a dirigentes do banco dificultava o andamento de processos de financiamento.

O ponto alto da insatisfação ocorreu no dia 12 de maio, com a deflagração da Operação Bullish, que apura suspeitas de irregularidades na maneira como a instituição financeira aprovou investimentos de R$ 8,1 bilhões na expansão da JBS, maior processadora de carne do mundo.

A JBS é controlada pela J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que fecharam a delação premiada que colocou o governo Michel Temer em sua maior crise política desde que o peemedebista assumiu o Palácio Planalto, em maio do ano passado.

A decisão de pedir demissão também foi influenciada pelas reclamações de empresários e investidores pela demora na liberação de financiamento. As queixas, feitas diretamente ao presidente era que o banco público tinha dinheiro, mas dificultava a concessão de empréstimos no ritmo esperado.

Oficialmente, a equipe presidencial respaldava Maria Silvia e dizia que ela estava apenas mudando o mecanismo para emprestar dinheiro, com mais critério para a aprovação de projetos. Nos bastidores, porém, admitia que a gestão do banco estava "cada vez mais difícil".

As críticas contra ela eram vocalizadas, dentro do governo, pelo ministro da Secretaria-Geral, Moreira Franco. Fora do Palácio do Planalto, eram feitas pelo presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, do PMDB, e pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Os três mantêm o trânsito do Palácio do Planalto com o setor empresarial e eram, portanto, os principais receptores das críticas do setor à gestão da economista.

O presidente recebeu Maria Silvia na tarde desta sexta-feira (26) no gabinete presidencial e, ao ouvir o pedido de demissão, perguntou se ela teria condições de permanecer no posto mesmo assim, mas não foi capaz de reverter sua saída.

A avaliação no Palácio do Planalto é de que a saída cria uma instabilidade no mercado financeiro, uma vez que Maria Silvia era tida como uma avalista da credibilidade da gestão peemedebista na área econômica, e pode impactar no apoio de setores empresariais ao presidente, que tem sofrido perdas desde a semana passada.

No médio prazo, no entanto, a perspectiva é de que melhore a relação dos setores empresariais com a possibilidade de liberação mais rápida de financiamentos e créditos.

No final da tarde, o presidente chamou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para tratar a situação do banco público e sobre quais serão os procedimentos de para a substituição de Maria Silvia. A avaliação é de que, por ora, "não há solução óbvia" para a sucessão.

Fonte - FolhaPress

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