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07/06/2017 às 18:18, Atualizado em 07/06/2017 às 14:42

JBS comprou gado de fazendas flagradas com trabalho escravo e desmatamento ilegal

As violações foram cometidas por fornecedores da JBS no Pará.

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Gado criado em área embargada pelo Ibama no sul do Pará  - Foto: Piero Locatelli/Repórter Brasil

A JBS comprou gado de fazendas que foram flagradas com trabalho escravo contemporâneo e desmatamento ilegal. A revelação foi feita por investigação da Repórter Brasil em parceria com o jornal britânico "The Guardian".

As violações foram cometidas por fornecedores da JBS no Pará. A empresa alega ter parado de comprar dos fornecedores assim que as informações vieram a público.

O caso de trabalho escravo entre fornecedores da empresa foi flagrado em fazenda de gado fiscalizada pela operação Rios Voadores em 2015.

A equipe, formada por Ibama, Ministério Público Federal e Polícia Federal, encontrou trabalhadores dormindo em barracos sem paredes, portas ou qualquer proteção contra insetos ou cobras –-muito comuns na região próxima à mata fechada.

A água para beber era retirada do mesmo rio onde os bois bebiam e defecavam. Não havia geladeira ou condições mínimas de higiene para manter a comida.

O quadro foi caracterizado como trabalho análogo ao de escravo na denúncia feita pelo Ministério Público Federal, na qual consta ainda a existência da escravidão por dívida. Os custos da alimentação e dos poucos equipamentos de proteção disponíveis eram descontados do salário.

A denúncia aponta que a exploração do trabalho escravo ocorreu na fazenda Curuá, em Altamira, propriedade de Antônio José Junqueira Vilela Filho e sua família. Documentos do mesmo inquérito revelam que a JBS comprou gado da fazenda Curuá.

No total, os documentos no inquérito apontam que a empresa comprou 5,9 milhões em bois, vacas e novilhos das fazendas do grupo entre 2013 e 2014.

A investigação sobre a responsabilidade da JBS na relação comercial com os criminosos ainda não foi concluída.

Em resposta à reportagem, a JBS declarou que a fazenda Curuá nunca entrou na lista suja do trabalho escravo, cadastro com o nome dos empregadores flagrados pela prática. "A JBS não compra gado de fazendas que tenham qualquer associação com o trabalho escravo, de acordo com a lista divulgada pelo governo brasileiro."

Antônio Carlos de Mello Rosa, coordenador do grupo de combate ao trabalho escravo da Organização Internacional do Trabalho no Brasil, criticou a postura da empresa, que ancora toda a sua responsabilidade à consulta da lista divulgada pelo governo.

Ele argumenta que as empresas precisam desenvolver os seus próprios mecanismos para monitorar os seus fornecedores. "Todos os setores econômicos têm que fazer sua própria regulação, além de usar a lista suja, para checar se há trabalho escravo entre seus fornecedores", afirma.

Maior desmatador da Amazônia forneceu à JBS

Além do trabalho escravo, a operação revelou que "Jotinha", apelido de Antônio Junqueira, operava na região o maior esquema de desmatamento ilegal associado a grilagem de terras da história da Amazônia. As inspeções federais às fazendas do grupo ocorreram entre 2014 e 2016, período em que houve reincidência dos crimes. Pelos crimes ambientais, "Jotinha" levou multa de R$ 119 milhões.

Procurada pela reportagem, a JBS afirmou que, "assim que recebeu as informações sobre as irregularidades, todas as compras de gado da família Junqueira foram imediatamente interrompidas".

A principal linha de defesa da empresa foi argumentar que não seria possível descobrir crimes que só vieram à tona graças à operação federal.

Dentro do inquérito, porém, a empresa apresenta mais informações sobre o caso. Nela, a JBS admite que continuou comprando de "Jotinha" e família apesar de seus nomes constarem na lista de proprietários que têm áreas embargadas no Ibama.

Isso não é uma ilegalidade, já que a lei brasileira veta apenas a compra de gado criado em áreas embargadas. Não há crime em negociar com proprietários que tenham outras áreas embargadas, desde que eles vendam de fazendas legalizadas. O cuidado, porém, poderia ter sido tomado por iniciativa própria de uma empresa preocupada em evitar práticas criminosas entre seus fornecedores. (Com informações do UOL).

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